As variações bruscas de temperatura entre calor intenso e ondas de frio, observadas nos últimos tempos, têm contribuído para um cenário preocupante: o aumento de doenças respiratórias, especialmente entre crianças pequenas. Com a chegada do outono e a aproximação do inverno, o clima mais seco favorece a circulação de vírus respiratórios, elevando o risco de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
De acordo com o Ministério da Saúde, somente em 2024 foram registradas mais de 112 mil hospitalizações e cerca de 7 mil mortes em decorrência da SRAG em todo o país. O Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou que, entre os dias 9 e 15 de fevereiro deste ano, mais de 11 mil casos da síndrome foram notificados entre crianças e adolescentes de até 14 anos.
A maior preocupação recai sobre os pequenos com até dois anos de idade, especialmente por conta do Vírus Sincicial Respiratório (VSR), responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias nessa faixa etária, segundo dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Outros vírus como o metapneumovírus, bocavírus, influenza, adenovírus, rinovírus e o próprio SARS-CoV-2 (COVID-19) também estão entre os causadores da doença.
No Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, os casos aumentam consideravelmente durante os meses mais frios. Em 2024, entre janeiro e março, foram identificadas 519 crianças com VSR positivo. Já no trimestre seguinte, esse número superou mil casos. Apenas nos dois primeiros meses de 2025, o hospital contabilizou 174 casos de crianças com diagnóstico confirmado para o vírus.
“Entre os principais sintomas da bronquiolite estão a respiração difícil e acelerada. Como o bebê não consegue se alimentar direito, muitas vezes acaba precisando de internação até desobstruir as vias aéreas”, explica a infectologista pediátrica do Sabará, Dra. Flávia Jacqueline Almeida.
Imunização é aliada na prevenção
A prevenção contra o VSR pode ser feita por meio da imunização passiva, uma vez que ainda não há vacinas disponíveis diretamente para as crianças. Uma das estratégias envolve a vacinação de gestantes, que passam anticorpos ao bebê durante a gestação, garantindo proteção nos primeiros seis meses de vida. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) anunciou que irá incorporar essa vacina, mas ainda não há uma data oficial para o início da aplicação.
Além disso, já estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) duas opções de anticorpos para proteção das crianças: o palivizumabe, indicado para prematuros, cardiopatas e pneumopatas; e o nirsevimabe, que poderá ser aplicado em todos os bebês, sendo também incorporado pelo Ministério da Saúde para os grupos de risco.
Com a previsão de um outono e inverno mais secos, especialistas recomendam atenção redobrada aos sintomas respiratórios nas crianças pequenas e reforçam a importância da prevenção e do acesso à imunização.