Uma doença nem sempre fácil de ser diagnosticada que apresenta consequências até irreversíveis nas articulações. Essa é a artrite psoriásica, um problema ainda pouco conhecido, mas que afeta cerca de 25% dos pacientes com psoríase. Com manifestações na pele e nas articulações, esta doença reumática pode ter sintomas que se desenvolvem de forma muito lenta, prejudicando sua correta identificação.
Uma investigação precoce evita a evolução da doença a níveis graves. O alerta é da coordenadora do Ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário de Brasília, Gladys Aires Martins. “A artrite psoriásica não tem cura e as lesões podem gerar deformidades, com danos articulares e erosão óssea”, explicou a dermatologista.
Além disso, essa doença gera dor e edemas articulares, dificuldades nos movimentos e modificações nas articulações. O paciente pode sofrer ainda de rigidez matinal, fadiga, dactilite (inflamação nos dedos), entesite (inflamação nos cotovelos, joelhos e pés). “Ela se assemelha a uma artrite reumatoide, portanto, muitas vezes é necessária a realização de exames para descartar todas as outras formas de artrite”, afirmou. Embora se trate de uma enfermidade reumática, quando associadas às lesões cutâneas de psoríase, o dermatologista pode identificar a doença e determinar a terapia mais adequada, que possa tratar tanto a pele quanto as articulações, sempre que possível em parceria com o reumatologista.
A artrite psoriásica pode ocorrer em qualquer idade, porém o mais comum é que os sintomas iniciem na faixa etária entre 30 e 50 anos. Não há diferença de frequência entre homens e mulheres. Normalmente é diagnosticada entre cinco e 10 anos após o início da psoríase, porém, pode ocorrer simultaneamente ao surgimento da psoríase, segundo Aires Martins. Em raros casos, as manifestações nas articulações precedem as lesões na pele, tornando o diagnóstico da artrite mais difícil.
Por ser uma doença crônica, que pode levar à diminuição da função e a sérias deformidades nas articulações, o reconhecimento e o tratamento precoce da artrite psoriásica são fundamentais para reduzir os danos articulares. Em muitos casos, o paciente procura o especialista já em estágios avançados. O tratamento é individual, mas hoje estes pacientes contam com opções que reduzem bastante as inflamações nas articulações e melhoram de forma significativa a qualidade de vida dos pacientes. “As terapias para psoríase e artrite psoriásica apresentaram grandes progressos nos últimos anos, com resultados expressivos para minimizar as lesões articulares e cutâneas”, informou a especialista.
É o caso das terapias biológicas, como o Enbrel (etanercepte), que inibem o fator de necrose tumoral a (TNF- a) – uma proteína chamada citocina que estimula a inflamação. Além de controlar os sinais e sintomas do processo inflamatório na pele e nas articulações, as terapias biológicas têm mostrado potencial para prevenção da progressão radiológica. As estratégias farmacológicas clássicas baseiam-se nas drogas modificadoras do curso da doença (DMCD) como metotrexato, ciclosporina, leflunomida e sulfassalazina. Anti-inflamatórios não esteroides e corticosteroides podem ser usados para alívio dos sintomas articulares, embora dificultem o controle das lesões cutâneas.
Para Gladys, estar atento a todo o perfil do paciente também é fundamental para o tratamento, já que portadores de psoríase estão sujeitos a outras comorbidades como diabetes, obesidade e hipertensão. “Por isso, a detecção precoce e avaliação do paciente com equipe multidisciplinar podem salvá-lo de uma deformidade articular e de consequências mais graves como risco cardiovascular aumentado”, concluiu a dermatologista.