O Jornal de Vinhedo trouxe com exclusividade na edição impressa do sábado, 12, a história de um grupo de haitianos que reside na cidade. Eles mudaram de país em busca de uma melhor qualidade de vida. Saíram da cidade de Gonaïves (em crioulo Gonayiv), a quarta maior do Haiti, passaram pelo Acre, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo, chegaram a Campinas e, no caminho, encontraram Vinhedo.
Hoje são cerca de 30 haitianos residindo na cidade, atraídos pelo “boca a boca”. O tio chamou o primo, que trouxe a namorada e os laços começam a ser formados. A maior parte está concentrada no Jardim Três Irmãos e São Matheus e já é conhecida por grande parte dos moradores.
Com o apoio da paróquia do bairro, receberam cesta básica e auxílio para a emissão de documentos importantes como RG, CPF e a carteirinha de saúde. Já instalados, recebem aulas de português no salão da igreja, por meio de voluntariados.
Um desses voluntários é o vinhedense Guilherme Oliveira da Silva, de 22 anos, formado em História, que todo sábado das 19h às 21h, se dedica a ensinar o grupo um pouco do idioma, dos costumes e da história do país. “O objetivo principal é a alfabetização da língua portuguesa, mas a gente acaba dando aula de conhecimentos gerais, de história, de geografia e, principalmente, esclarecendo dúvidas”, explica o jovem.
O idioma é o principal entrave. O crioulo – língua oficial, é uma mescla do francês com dialetos de ilhas africanas, mas nada que não possa ser resolvido com o auxílio de um tradutor na internet. “Eles têm bastante vergonha de falar, por isso, a gente acaba conciliando a prática junto com a teoria, como fazer compras no supermercado, como usar o cartão, este tipo de coisa”, detalha.
A maior parte dos alunos de Guilherme são homens entre 20 a 40 anos. No grupo não há crianças e nem idosos. Dos 30 que residem na cidade, cerca de 23 participam das aulas. Os outros não conseguem conciliar o trabalho com o estudo. “Muitos estão trabalhando como garçom a noite, o que inviabiliza a participação. Mas estes, já estão com uma certa fluência, conseguem se virar bem sozinhos”, conta Guilherme.
Ainda de acordo com o professor, os imigrantes viram em Vinhedo a possibilidade de recomeçar a vida, abalada por instabilidade econômica, política e, sobretudo, territorial, já que o país é altamente vulnerável a enchentes e abalos sísmicos. “Eles gostam bastante daqui e se mostram surpresos com a variedade de comida para comprar, bem diferente da realidade que eles viviam. Outros aspectos são semelhantes, como a predominância cristã e o calendário de eventos”, destaca.
A experiência adquirida com o grupo é algo que Guilherme vai levar para a vida toda”. Acaba sendo, na verdade, uma troca de experiências muito grande. Eu sou o professor, mas eu aprendo muito mais com eles. Por estarem distantes da família, dos amigos, a gente acaba se apegando. É uma experiência ímpar”, resume.