Consumo de álcool afeta visão noturna

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O consumo do álcool afeta a visão noturna ao aumentar a percepção de círculos luminosos, chamados de halos, além de outras perturbações. A constatação foi feita por um estudo elaborado pela Universidade de Granada, na Espanha.

Além disso, em pessoas que consomem álcool em excesso (mais do que o limite legal recomendado pela Organização Mundial da Saúde – OMS), a deterioração da visão é significativamente maior. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que o álcool pode danificar a qualidade óptica da imagem que percebemos porque, entre outras coisas, ele modifica o filme lacrimal que reveste a superfície dos olhos.

A rigor, o etanol das bebidas alcoólicas atinge a camada mais externa do filme lacrimal (lipídica) e facilita a evaporação da parte aquosa da lágrima. Quando isso acontece, a imagem formada na retina é distorcida – podendo comprometer gravemente atividades noturnas, principalmente dirigir.

Na opinião do médico oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, em São Paulo, não é só o consumo excessivo de álcool que pode comprometer bastante a visão e aumentar os riscos de um grave acidente de trânsito. “Problemas visuais como embaçamento da visão e catarata – que muitas vezes são diagnosticados tardiamente – costumam dificultar a visão do motorista em relação ao que os pedestres estão vestindo (roupas escuras, por exemplo). Sendo assim, os reflexos necessários para evitar acidentes ficam altamente comprometidos. Até mesmo dificuldades moderadas para enxergar acabam reduzindo a habilidade de enxergar um pedestre à noite”.

Outro estudo, divulgado no jornal Investigative Ophthalmology & Visual Science, revelou que nenhum dos motoristas que simularam ter catarata conseguiu identificar um pedestre que usava roupas pretas. Já quando listras refletivas eram utilizadas, a visão aumentava para 82,3%. Essa pesquisa também demonstrou que a redução da capacidade de enxergar à noite altera a noção de distância e, consequentemente, atrasa a visão que o motorista tem do pedestre. “Aqui no Brasil, os acidentes são uma das principais causas de morte. Portanto, estar em dia com a saúde ocular costuma evitar boa parte dos acidentes. Até 40 anos, o motorista deve passar por um exame completo de visão de três em três anos. Entre 40 e 65 anos, esse espaço deve ser reduzido para dois anos. Já depois dos 65 anos, os exames devem ser anuais. Infelizmente, há muitos jovens com alto grau de miopia dirigindo sem óculos ou lentes corretivas”, diz o médico.

Várias doenças oculares, como o glaucoma – em que há perda do campo visual – não dão sinais evidentes da sua presença. Mas, quanto mais cedo forem diagnosticadas, maiores são as chances de o tratamento ser bem-sucedido. “Pessoas que sofrem de degeneração macular (perda gradual da visão central), diabetes ou têm alguma cicatriz no fundo de olho, também podem ter um campo visual limitado e visão dupla, devendo ser avaliadas e orientadas por um especialista. Correm o risco de provocar acidentes, ferindo a si próprias e aos demais motoristas e pedestres”, alerta Neves.

Enquanto as doenças oculares podem e devem ser diagnosticadas precocemente e tratadas, o consumo excessivo de álcool depende de uma tomada de consciência e de muita determinação para ser superado. Para José Juan Castro, que coordenou o estudo espanhol, o consumo de álcool somado à baixa iluminação pública são fatores presentes na maioria esmagadora dos acidentes de carro. “Com a visão geral deficiente e um aumento considerável na percepção visual de halos fica realmente difícil para um motorista distinguir um pedestre a tempo de frear o carro, ou mesmo de distinguir os sinais de trânsito e as luzes do semáforo. Esse tipo de estudo chama atenção da sociedade e das autoridades para que mudanças sejam implantadas no sentido de reduzir os acidentes de trânsito durante a noite”.

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