Pesquisa coordenada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, maior complexo hospitalar da América Latina, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, apontou que 88% dos acidentes envolvendo motos na capital paulista acontecem por imprudência.
Em 49% dos casos, a culpa é do motociclista e, em 51%, pelo condutor de outro veículo. “A culpa divide-se igualmente entre motociclistas e motoristas”, disse a responsável pelo estudo, Júlia Greve, médica do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC.
Durante três meses, num regime de 24 horas, feitos em dias alternados, foram coletados dados das vítimas em unidades hospitalares da zona oeste da cidade de São Paulo e no local do acidente.
Em 71% dos acidentes os condutores de moto excederam o limite de velocidade. A maior parte dos acidentes, 94%, aconteceu com pista seca; 67% durante o dia.
Segundo Júlia Greve, o comportamento do motociclista e do motorista é o principal fator dos acidentes. “Há um despreparo dos condutores para direção veicular no ambiente congestionado das grandes cidades”, relatou.
A coleta hospitalar foi feita com motociclistas atendidos no Pronto-Socorro Municipal Bandeirantes (Dr. Caetano Virgílio Neto), no Pronto Socorro da Lapa, no Hospital Universitário (HU) da USP, e no Hospital das Clínicas. No local, foram coletados dados de todos os acidentes ocorridos na Zona Oeste notificados pela equipe de plantão.
O projeto contou com a participação de vários departamentos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e de órgãos públicos e privados, como Companhia de Engenharia de Tráfico (CET), Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, além do apoio da Abraciclo (Associação Brasileira de Ciclomotores).
“Este estudo teve como principal objetivo avaliar os fatores associados com os acidentes de trânsito com motocicletas em relação: à vítima, à via, ao veículo, e à inter-relação das causas”, revelou a coordenadora da pesquisa Júlia Greve.
Principais dados:
1. Identificação da vítima
· Gênero: 92% eram homens
· Idade média : 29,7
· Escolaridade: 58% ensino médio completo ou incompleto; 20% superior completo
· 62% tem renda de 1 a 3 salários mínimos.
· 73% usam a motocicleta para transporte e 23% para o trabalho
· 55% sofreram acidentes anteriores e 18% internações anteriores pelo acidente
2. Diagnóstico e desfecho
· 44% tiveram lesões consideradas graves
· 17% tiveram fraturas de membros inferiores e 12% tiveram fraturas de membros superiores, 9% tiveram politraumatismos e 5% tiveram trauma crânio-encefálico
· 67% das vítimas sem habilitação tiveram lesões graves e 43% das com habilitação foram graves
· 28% (93 vítimas) dos casos foram internados, sete pacientes morreram (2%) e 56% tiveram alta
3. Habilitação e treinamento
· 23% das vítimas não tinham habilitação para dirigir motocicleta e 33% a tinham há menos de quatro anos
· 75% das vítimas sem habilitação tinham menos que 32 anos
· 67% das vítimas aprenderam a pilotar sozinho
· 45% tinham motocicleta há menos de dois anos
· 31% dos condutores tinham curso de direção defensiva
4. Equipamentos de segurança
· 90,2% das vítimas usavam capacete
· Apenas 17,8 % usavam capacete, bota e jaqueta.
· 31% dos motofretistas e 14% dos motociclistas estavam usando capacete, bota e jaqueta.
5. Motofretista x Motociclista
· 23% das vítimas eram motofretistas.
· Os motofretistas dirigem (em média) oito horas por dia e os motociclistas duas horas.
6. Uso de álcool e drogas
· 21,3% dos acidentados tiveram dosagem positiva para álcool/ droga em, pelo menos, uma amostra biológica.
· 7,1% (22 vítimas) tinham usado álcool e 14,2 (44%), outras drogas.
· Depois do álcool, a cocaína foi a droga mais encontrada.
· 3,6 % com alcoolemia positiva (com valores até três vezes acima de 0,6g/l).